quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

190 anos de 1817

A produção cultural pernambucana é marcada indelevelmente por uma boa dose de saudades. Sintomaticamente, um de nossos primeiros romances regionais trata das lembranças de um menino de engenho (lembram de José Lins do Rego?). Essa quase angústia de muitos de nossos intelectuais e artistas é, entretanto, dirigida normalmente a eventos e símbolos vinculados à sociedade açucareira.
No campo político, o saudosismo entra em contradição. A tão decantada terra das rebeliões libertárias parece cultivar muito mais os nomes da monarquia e do império em detrimento da memória de seus mártires republicanos. Onde estão as largas avenidas dedicadas ao Frei Caneca, a Domingos Martins, ao Frei Miguelinho, ao Pe. Roma, ao Manuel de Carvalho, à Confederação do Equador, aos Matutos da junta governativa de 1821, aos líderes que romperam laços com Portugal, bem antes que o Rio de Janeiro o fizesse? Alguns desses nomes até que nomeiam algumas ruas da cidade, mas nenhuma de localização central. Ao contrário, é fácil achar a Rua Princesa Isabel, a Rua do Imperador, a Rua da Imperatriz, a Av. Conde da Boa Vista, enfim. Para não ser injusto, é preciso registrar o nome do Cruz Cabugá, que foi o embaixador do governo de 1817 frente aos Estados Unidos da América.
O próximo dia 06 de março marca os 190 anos do primeiro movimento com caracteres republicanos efetivamente posto em prática em nossa história. Mesmo com todas as suas hesitações e limitações, tinha membros que se propunham discutir a forma de governo, planejar eleições, questionar a continuidade do trabalho escravo. Não por acaso, foi duramente reprimida por Lisboa. É um evento, portanto, que deve ser lembrado pelas novas gerações.

Um abraço.