sábado, 23 de junho de 2007

Morre um grande pensador do Brasil!

O Brasil está de luto. Os novos estudantes não mais contarão com as aulas do prof. Manoel Correia de Andrade, um dos grandes nomes da ciência social no país e vinculado ao departamento de geografia da UFPE. O prof. Manoel Correia foi de uma geração preocupadíssima em pensar o Brasil. Suas carências, seus problemas, descobrir soluções, um período (a década de 50 e 60) onde o espírito público parecia ser bem maior que hoje, onde muitos jovens buscam a universidade apenas pensando em fazer um curso que lhes garantam um bom salário ao fim do mês. Escreveu livros fundamentais para entender os entraves que a herança colonial impunham ao país, a exemplo de "A Terra e o Homem no Nordeste", um clássico da geografia e das ciências sociais em geral. Tratava de história, de sociologia, antropologia, política com a mesma desenvoltura da geografia, seu lugar oficial na partilha da especialização acadêmica. Contribuiu deveras para resgatar a memória das histórias de Pernambuco, e em particular, de seus movimentos sociais (Movimentos Populares no Nordeste no Período Regencial). Resgatou a história de levantes populares da província (setembrizada, novembrada, abrilada, carneirada, Quebra-Quilos, o Ronco da Abelha, a Cabanagem pernambucana). Escreveu os fascículos de Pernambuco Imortal, com o Jornal do Commercio e a Companhia Editora de Pernambuco. Contou a história dos engenhos e das usinas de açúcar do estado (História das Usinas de Açúcar de Pernambuco). Era colunista dominical do Jornal do Commercio, onde tanto fazia comentar sobre o distante (tão próximo) Timor Leste, sobre a crise palestina ou memórias pitorescas da vida nos engenhos. Enfim, um pensador completo, que chamá-lo de intelectual é ofensa. Intelectual é pedante, chato, arrogante. Manoel Correia era de uma persolidade simples, conversa fácil, travada sem dificuldade pelos corredores da universidade. Um pensador. Pernambucano. Brasileiro.

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Cronologia de Joaquim Nabuco

Nessa ocasião da passagem do 13 de maio, vale a pena conhecer um pouco da atuação de um dos maiores expoentes do movimento abolicionista. Joaquim Nabuco foi diplomata, deputado, jornalista. Ah, depois de exercer o mandato de deputado (onde participou da negociações para a edição da Lei Áurea pelo gabinete do conselheiro João Alfredo, igualmente pernambucano), desistiu da carreira política, decepcionado com o parlamento e veleidade de seus membros. Seu primeiro caso como advogado foi defender um escravo, Tomás, que havia matado o seu senhor e o feitor que lhe açoitavam. Visite a página da FUNDAJ, indicada abaixo:

http://www.fundaj.gov.br/notitia/servlet/newstorm.ns.presentation.NavigationServlet?publicationCode=16&pageCode=233&textCode=3764

Império Romano - Esquema para estudo (I)

Otávio (27 a.C. – 14 d.C.)

Centralização do poder e das magistraturas.
Pax Romana: fim das conquistas e administração das províncias.
Política do pão e circo.
Criação da Ordem Eqüestre (composta pelos cidadãos ricos) com direito a ocupar cargos públicos ao lado dos patrícios.

Dinastia Júlio-Claudiana (14 a 96)

Retomada dos conflitos entre patrícios e plebeus. Confrontos sangrentos entre o senado e os imperadores. Tibério, Calígula, Cláudio e Nero. Perseguições aos cristãos.

Dinastia Antonina (96 a 193)

Apogeu do império. O século I é considerado o “século de ouro” de Roma. Os imperadores são de famílias vindas das províncias (Espanha e Gália).
A sucessão de Cômodo em 193 mergulhou o império em uma guerra civil. Nesse ano Roma teve quatro imperadores, sendo o último, Sétimo Severo, aquele que conseguiu estabilizar-se no governo. Entretanto, a dinastia dos Severos foi marcada pelo rompimento do equilíbrio externo do império. Em 212, a cidadania foi estendida a todos os homens livres. Últimas conquistas com Trajano.

Dinastia Ilíria

Entre 235 e 284 sucederam-se diversas crises políticas, mas, sobretudo, econômicas. Os episódios são conhecidos como a “crise do século III”.
Crise do século III – falta de mão de obra, queda na produção, inflação, surgimento do colonato, início do êxodo urbano.

Diocleciano (284/305) – Criação da Tetrarquia (divisão administrativa do império), intervenção na economia para conter a crise, resolver o abastecimento e os preços, perseguição aos cristãos.

Constantino (306/337) – Fim da Tetrarquia. Edito de Milão, dando tolerância ao culto cristão (a partir da própria conversão de Constantino). A conversão levou o imperador a temer por um golpe, estimulando o projeto da reforma de Bizâncio, sua mudança de nome para Constantinopla e sua posição de segunda capital para o império.

Teodósio (379/395) – Edito de Tessalônica (391) tornando o cristianismo a religião oficial do império e proibindo logo depois, os cultos pagãos e politeístas.

Crise final do império (século V)

Ruralização da economia e da sociedade.
Rompimento do equilíbrio com os povos bárbaros na fronteira, a partir da pressão que estes recebem dos ataques dos hunos. Os deslocamentos dos bárbaros assumem ares de invasões e os choques são cada vez mais violentos com as tropas do império. Até que em 476 a própria Roma é invadida, saqueada e incendiada.

Relevância e equívocos sobre o 13 de maio (Parte I)


Fac-símile da Lei Áurea. Biblioteca Nacional


Domingo próximo passado completamos 119 anos de abolição do trabalho escravo no Brasil. A Lei Áurea representou a coroação dos esforços de um movimento que congregou diversos setores sociais na segunda metade do século XIX, a exemplo de membros do clero, jovens estudantes, diversos profissionais liberais, políticos (tanto conservadores quanto liberais) e oficiais do exército. Fomos o último país do ocidente a fazê-lo. Os EUA haviam abolido a escravidão durante o processo da Guerra de Secessão (1865) e em 1887, Cuba (ainda sob domínio colonial espanhol) extinguiu o trabalho escravo. No caso brasileiro, o movimento abolicionista representou ainda a primeira ocasião em que parcelas importantes da sociedade efetivamente se mobilizaram para questionar, propor e redefinir aspectos dos rumos políticos e econômicos do País.


É importante lembrar que desde a independência as instituições políticas do Brasil foram pensadas como algo restrito às elites econômicas. O sistema eleitoral foi montado com dois tipos de eleitores: o de primeiro grau, que devia possuir uma renda equivalente a 100 mil réis anuais, e que votava no eleitor de segundo grau, que devia possuir uma renda a partir de 200 mil réis anuais e eram escolhidos na proporção de um eleitor para cada 100 domicílios. Estes últimos é que escolhiam os deputados e a lista tríplice de nomes que eram oferecidos ao imperador para que este nomeasse o senador. Tal sistema excluía efetivamente uma parcela muito grande da população das decisões politicas. Não é à toa que o imaginário popular tem tão arraigada a idéia de que política é coisa para ricos e "doutores". O movimento abolicionista marcou assim a oportunidade de milhares de brasileiros expressarem sua opinião e pressionarem o parlamento em torno da idéia do fim do trabalho escravo. Vale lembrar que o movimento teve várias vertentes, indo desde jovens senhorinhas que coletavam contribuições para a compra de alforrias a grupos que atuavam na organização de fugas de escravos de engenhos e fazendas.



O abolicionismo integrou, ainda, uma série de mudanças culturais que perpassaram a sociedade brasileira da segunda metade do XIX e que ajudaram a fazer com que o escravismo se tornasse algo moralmente reprovável. Pensemos que na primeira metade do século ainda era algo normal e socialmente aceitável possuir escravos. A partir de 1840/1850, ao lado das mudanças econômicas, teremos também o romantismo, onde a certa altura terá uma de suas próprias fases marcadas pela luta a favor do abolicionismo. Aliás, ainda é tempo de esclarecer, o movimento congregava aqueles que defendiam o fim da escravidão sem indenização aos proprietários em oposição àqueles que simplesmente eram contra a abolição ou a favor, mas com a devida indenização aos fazendeiros. A abolição não foi, portanto, apenas mais uma lei feita para desviar a atenção do debate sobre o abolicionismo. A Lei Áurea representou um momento na modernização das relações sociais no Brasil. O princípio da igualdade e da liberdade como direitos naturais não são apenas palavras vazias. Ao atravessar o Atlântico e aportar em nossas terras, os ideais iluministas sofreram muitas limitações, mas a extinção da escravidão e no ano seguinte, a proclamação da república contribuíram para inserir o país no debate da modernidade.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Mesopotâmia

O Tigre e o Eufrates nascem nos planaltos do Irã e deságuam no Golfo Pérsico.

a) Sumérios – Região sul. Caldéia. Área fértil, com solo de aluvião (deposição de sedimentos arrastados pelos rios). 4000/3000 a.C. Bronze, canais e escrita. Ur, Uruch, Lagash, Nippur.

b) Acádios. Tomaram as cidades sumérias. Agade, Sippar e Babilônia. Absorveram a cultura suméria. Rei Sargão.

c) Amoreus/Império Babilônico – Hamurábi e o Código. Apesar de ter o nome do rei, é importante lembrar que ele é a sistematização de todo um conjunto de regras que datam de há muito tempo. O Código é também lembrado pelo seu suposto aspecto legitimador da vingança (princípio de Talião, “olho por olho, dente por dente”). É importante perceber o Código como um marco da civilização: (a) o direito de vingança é realmente legitimado pela lei, mas isso explica-se pela idéia de pena que vigora até o século XIX, associando-a à noção exclusiva de punição (a partir do século XIX ganhou corpo a idéia da pena como instrumento de punição, mas também de ressocialização do criminoso); (b) a vingança passava a ser exercida pelo Estado, não mais pelo indivíduo; (c) a pena não passa da pessoa do criminoso nem ultrapassa (pelo menos, na maioria das vezes) o delito cometido. Por tudo isso, o Código de Hamurábi é um marco na constituição do Estado e da Civilização. Os babilônicos enfrentaram grupos indo-europeus (hititas, medos e persas), o que favoreceu a ascensão da Assíria.

d) Assírios – Semitas, do norte da região, tinham a capital em Assur, também chamada de Nínive. Sua expansão deu-se com Sargão II, conquistando o reino de Israel (o reino do Norte, após a morte de Salomão) e a Síria. Depois foram governados por Senaqueribe e Assubanípal, que tomaram o Egito. Usavam cavalos, carros atrelados a eles e armas de ferro. Nínive foi destruída em 612 a.C.

e) II Império Babilônico – Nabucodonosor (605/562 a.C.) – conquistou o reino de Judá (o reino do Sul após a morte de Salomão). Foram conquistados depois por Ciro (persas) em 539 a.C. Nessa época deu-se o Renascimento Saíta no Egito.

Escrita – cuneiforme, decifrada por Grotenferd (1802) e Rawlinson (1832). Em 1901 ocorreu a descoberta da pedra com o Código de Hamurábi. Religião – Politeísta, um dos deuses principais era Marduque, de Assur. Desenvolveram a astrologia e os conceitos básicos do zodíaco, a partir das observações astronômicas feitas nos zigurates. Desenvolveram um sistema numérico de base sexagesimal, o que contribuiu para estabelecer a divisão do círculo em 360º, a divisão do dia em 24 horas, das horas em 60 minutos e destes em 60 segundos. Possuíam um calendário lunar com 12 meses (6 de 30 + 6 de 29 dias).

quinta-feira, 1 de março de 2007

Egito Antigo - Relembrando...

A dinâmica do desenvolvimento político deu-se com o choque periódico entre o poder central (Faraó) e o poder local dos sacerdotes e da nobreza. Assim, temos o Antigo, o Médio e o Novo Impérios, com os chamados “períodos intermediários” entre eles. E ao final, o Renascimento Saíta.

Pré-dinástico – 4000/3200 a.C. – Descentralização política, formação dos nomos ao longo do Nilo. O estado surgiu a partir da organização das obras hídricas (diques, represas, canais de irrigação, lagos). Por volta de 3500, surgiram os Reinos do Alto e do Baixo Egito, ficando a divisão entre os reinos na altura de Mênfis. A unificação entre os reinos ocorreu em 3200, atribuída ao faraó Menés, de figura quase mitológica.

Antigo Império – 3200/2300 a.C. – a capital estava entre Thinis e Mênfis. Consolidação do poder do Faraó, considerado como a encarnação de um deus. Teocracia. Política e Religião. Construção das grandes pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos, (os faráos da IV dinastia). O enfraquecimento do poder do governo central deu-se em detrimento dos nomos, onde os sacerdotes e os “proprietários” exerciam o poder efetivo. O império passava a ter vários centros de poder: Mênfis, o Delta, Heracleópolis e Tebas.

Médio Império – 2100/1780 a.C. – A capital passou para a cidade de Tebas, cuja nobreza promoveu a reunificação e uma consolidação do poder central. Os faraós de mais destaque são Sesóstris e Amenemhet. Grandes construções, onde se destacou a represa de Fayum, e expansão territorial através da navegação para o sul. Invasão dos Hicsos em 1750 (sua origem não é um consenso entre os pesquisadores, mas admite-se geralmente que são pastores e vindos da região da Síria). Usavam carros de guerra e armas de ferro. A reação dos príncipes tebanos levou à expulsão dos Hicsos por volta de 1.600 a.C. Simultaneamente, houve uma expansão territorial estimulada pela melhoria nas técnicas de combate.

Novo Império – 1580/1090 a.C. – A luta contra os Hicsos promoveu uma reforma no aparato militar egípcio e levou o império a um momento de expansão, conduzido pelo faraó Tutmés III e marcado pela conquista da Núbia, Etiópia, Palestina, Síria e Fenícia. As memórias destas batalhas e conquistas estão registradas em belíssimos conjuntos de baixo relevo no templo de Karnak. A ampliação dos domínios territoriais levou a uma ampliação do comércio egípcio em torno do Mediterrâneo até a ilha de Creta. Por volta de 1375 aconteceu a tentativa de reforma religiosa de Amenófis IV, que introduziu o culto ao disco solar, mudou seu nome para Akhenaton (servidor de Aton – atenção!!! alguns textos trazem essa grafia como Ikhnaton). O cenário que explica o conflito é o choque entre os faraós e a crescente influência dos sacerdotes de Tebas, sendo também bastante plausível que estivesse em curso uma tentativa de adaptar o particularismo politeísta na direção de uma religião de caráter mais universal, que pudesse abarcar os povos que estavam sendo submetidos ao Egito. As novas fronteiras iam, então, do Eufrates à quarta catarata do Nilo.
Entre as grandes construções da época, estão os templos de Karnak e Luxor. Expansão de Ramses II. Conquista do Egito pelos Assírios (671 a 663).

Renascimento Saíta – a cidade de Saís no delta do Nilo conduziu a luta contra os assírios. O período também foi marcado pela retomada comercial. Em 526 os persas conquistaram o Egito (Cambises, filho de Ciro). Em 332 foi a vez de Alexandre Magno. Em 31 a.C. Roma marchava sobre o delta, derrotando Marco Antonio aliado de Cleópatra, pondo fim ao regime de dinastias.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Cultura e História. Nossos antepassados remotos.

Australopitecus Afarensis (símios do sul de Afar). 3,5 milhões de anos, na região de Afar, leste da Etiópia, margens do lago Turkana, o berço da humanidade., Totalmente bípedes. Faziam instrumentos muito rudimentares. É dessa espécie os fosseis de nossa antecestral mais célebre, Lucy. Seu nome deveu-se à música dos Beatles, Lucy in the sky with diamonds, que tocava no rádio no momento de sua descoberta.

Homo Habilis. Surgiu entre 2 e 1,5 milhão de anos nas mesmas áreas ocupadas pelos australopitecus, mas suas formas físicas indicam uma espécie diferente, o homo. Carnívoro e herbívoro, 1,20 de altura, seus instrumentos cortantes com pedras e madeiras são considerados os primeiros que podem ser mais propriamente chamados de fabricados. Para isso influenciou profundamente o desenvolvimento do movimento prênsil realizado pelo encontro do polegar com o indicador, que permite vários movimentos com mais delicadeza e precisão. Provavelmente, primeiros comportamentos cooperativos (alimentação em grupo). Suas habitações estavam próximas às nascentes de águas e lagos. Aliás, comentário quase desnecessário!

Homo Erectus. Maior massa craniana. Mais ferramentas, mais sociáveis, formas mais complexas de comunicação. Domínio do fogo, mas possivelmente sem ainda conseguir controlar a sua produção. Melhoria nas habitações e no alimento. Superação do período glacial. São também classificados como outras formas de hominídeos ou Pitecantropus (homem-macaco, por falta de melhor definição!). Homem de Java, Homem de Heidelberg, Homem de Pequim. Viveram entre 500 e 200 mil anos. Possuíam maxilares grandes e proeminentes. Foi o primeiro a migrar. De pele negra, é o nosso mais antigo antecestral, para desespero de racistas, espíritos preconceituosos, segregacionistas de qualquer tipo.

Homo neanderthalensis. Seu nome deve-se aos fósseis encontrados em Neandertal, vale da bacia do Dussel, na Alemanha. Até o momento, o primeiro ligado à nossa espécie. Pode mesmo ser considerado um antecedente direto do Homo Sapiens. Habitou várias regiões na Europa, Ásia Menor (oriente médio)e norte da África. Caçador habilidoso, novas invenções, facas, pontas de lanças, supultamentos mais ritualizados, com os mortos enterrados junto com os seus pertences pessoais e enfeites. Foi contemporâneo do Homo Sapiens.

Homem de Cro-Magnon. Último elo conhecido entre os neandertais e o sapiens, mas a cadeia não está completa: falta ainda o “elo perdido”. Possuía cerca de 1,80 e o cérebro mais semelhante ao homem moderno. Seu surgimento se deu no paleolítico superior.

Homo sapiens sapiens. Na África, 100.000 a.C. e migrou para a Europa, cerca de 35 mil anos. Uso mais refinado da linguagem. É o período onde surge a farta produção cultural rupestre, com representações de cenas de caça, de atos sexuais, de animais, de figuras humanas. Sobre o significado destas imagens, é comum associá-las a rituais mágicos. A cena de caça seria uma espécie de esconjuro para ter sucesso na empreitada. Bem, também não podemos desprezar a séria possibilidade das pinturas responderem aos desejos estéticos de seu autor. Isto é, ele pintava por achar belo, por querer pintar. Por que o artista daquela época deveria dedicar-se a sua obra por interesses apenas "mágicos"? Não podia ter anseios estéticos? Isso nos é próprio, isto é, a nós, ditos civilizados?!! Pensem! É dessa época ainda, a invenção do arco e flecha, anzóis, arpões, agulhas e botões e uma profusão de vestígios de fogueiras.

À medida em que as sociedades tornam-se mais complexas, a divisão do trabalho vai se aprofundando. Primeiro, a divisão sexual. Os homens caçam e as mulheres coletam. Depois, a divisão social. Surgem aldeias que privilegiam a criação, a agricultura, o artesanato, o comércio. Permeando tudo, temos o mais significativo elemento que altera a organização do trabalho: a divisão entre os que pensam, planejam, conhecem o objetivo da realização daquela tarefa e os que apenas a executam.

Essa divisão entre trabalho intelectual e manual encontra-se no âmago das relações de poder, da estratificação social, da diferenciação do grupo em classes distintas. As próprias atividades intelectuais passarão por especializações, surgindo as mais variadas atividades de natureza cultural e espiritual.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Poema da Semana. "Evocação do Recife", Manuel Bandeira

Olá turmas. Segue um belíssimo poema de Bandeira, com fartas referências à história local, à paisagem da cidade, de um tempo onde a Caxangá já era considerada um "sertãozinho"... Quem quiser ouvir o próprio Manuel Bandeira recitando, visite o site da editora COSAC & NAYFI, cujo link eu coloco ao fim do poema. A editora está lançando uma antologia que foi organizada pelo próprio poeta juntamente com um cd onde o mesmo recita os poemas. Mais uma mostra sobre o encontro entre História e Literatura.

Evocação do Recife

Recife
Não a Veneza americana
Não a Mauritsstad dos armadores das Índias Ocidentais
Não o Recife dos Mascates
Nem mesmo o Recife que aprendi a amar depois - Recife das revoluções libertárias
Mas o Recife sem história nem literatura
Recife sem mais nada
Recife da minha infância
A rua da União onde eu brincava de chicote-queimado e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas
Totônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenê na ponta do nariz
Depois do jantar as famílias tomavam a calçada com namoros risadas
A gente brincava no meio da rua
Os meninos gritavam: Coelho sai! Não sai!
A distância as vozes macias das meninas politonavam:
Roseira dá-me uma rosa
Craveiro dá-me um botão(Dessas rosas muita rosa
Terá morrido em botão...)
De repente nos longos da noite um sino
Uma pessoa grande dizia:
Fogo em Santo Antônio!
Outra contrariava: São José!
Totônio Rodrigues achava sempre que era são José.
Os homens punham o chapéu saíam fumando
E eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo.
Rua da União...Como eram lindos os montes das ruas da minha infância
Rua do Sol (Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal)
Atrás de casa ficava a Rua da Saudade......onde se ia fumar escondido
Do lado de lá era o cais da Rua da Aurora......onde se ia pescar escondido
Capiberibe- Capiberibe
Lá longe o sertãozinho de Caxangá
Banheiros de palha
Um dia eu vi uma moça nuinha no banho
Fiquei parado o coração batendo
Ela se riu
Foi o meu primeiro alumbramento
Cheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiu
E nos pegões da ponte do trem de ferroos caboclos destemidos em jangadas de bananeiras
Novenas
Cavalhadas
E eu me deitei no colo da menina e ela começoua passar a mão nos meus cabelos
Capiberibe- Capiberibe
Rua da União onde todas as tardes passava a preta das bananas
Com o xale vistoso de pano da Costa
E o vendedor de roletes de cana
O de amendoimque se chamava midubim e não era torrado era cozido
Me lembro de todos os pregões:
Ovos frescos e baratos
Dez ovos por uma pataca
Foi há muito tempo...
A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada
A vida com uma porção de coisas que eu não entendia bem
Terras que não sabia onde ficavam
Recife...
Rua da União...A casa de meu avô...Nunca pensei que ela acabasse!
Tudo lá parecia impregnado de eternidadeRecife...
Meu avô morto.
Recife morto, Recife bom,
Recife brasileiro
como a casa de meu avô

Para ouvir o poema recitado pelo próprio Bandeira:

http://www.cosacnaify.com.br/noticias/mb_50poemas.asp

domingo, 11 de fevereiro de 2007

Sobre os Annales...

A partir da década de 1920, a abordagem positivista da História foi seriamente questionada pelos franceses. Em linhas gerais, havia uma insatisfação pela centralização do trabalho do historiador nos grandes feitos dos grandes líderes, cujo texto era apresentado na forma de uma narrativa desses eventos.

Dois nomes marcaram a renovação nas pesquisas: Marc Bloch, Lucien Febvre e Fernand Braudel. Nomes com histórias pessoais igualmente fascinantes. Símbolos de uma época, diriam alguns. Bloch escreveu importantes trabalhos sobre a Idade Média, entre eles, um chamado "Os Reis Taumaturgos", sobre o papel das monarquias medievais e o relacionamento destas com o imaginário popular, a partir da crença no poder de cura do toque dos reis. Frebvre defendeu veementemente a ampliação das fontes usadas pelo historiador (a fonte passava a ser qualquer vestígio da passagem do homem sobre a terra), além de abordar o documento de uma forma diferenciada. Para ele, o fato histórico não está pronto no documento, bastando catalogá-los em ordem cronológica, como pensavam os positivistas. Os documentos são interrogados pelo historiador a partir dos problemas de sua própria época, aumentando assim, a sua complexidade e ressaltando o papel que o pesquisador na própria construção da História. O historiador não ~e um colecionador, mas um intérprete, e como tal, analisa o documento a partir de sua própria experiência intelectual, social, a partir de seus próprios valores. Braudel escreveu um estudo modelar sobre o Meditarrâneo na época de Felipe II (aquele da União Ibérica), onde inicia descrevendo a paisagem (solo, clima, relevo, etc.) da bacia mediterrânea, continua com a formação histórica da região até chegar aos dias de Felipe II. Estes autores apontavam para as características da Escola dos Annales: INTERDISCIPLINARIDADE, marcada pela forte influência da sociologia, da economia, da demografia, da geografia, da estatística; ATENÇÃO PARA A PRESENÇA DAS MASSAS, DO POVO na história; ABORDAR A HISTÓRIA NUMA PERSPECTIVA DE LONGA DURAÇÃO, não apenas do grande evento praticado pelo grande líder; ATENÇÃO PARA AS MENTALIDADES COLETIVAS.

Sobre o nome da Escola, ele é devido à revista criada por Bloch e Febvre em 1929: ANAIS DE HISTÓRIA ECONÔMICA E SOCIAL. Ah, sobre a tragédia pessoal de Bloch, preso pelos nazistas durante a ocupação alemã da França, foi executado com todos os prisioneiros dias antes dos Aliados libertarem Paris. Deixou inconcluso um último texto, onde refletia sobre o trabalho do historiador...

quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

190 anos de 1817

A produção cultural pernambucana é marcada indelevelmente por uma boa dose de saudades. Sintomaticamente, um de nossos primeiros romances regionais trata das lembranças de um menino de engenho (lembram de José Lins do Rego?). Essa quase angústia de muitos de nossos intelectuais e artistas é, entretanto, dirigida normalmente a eventos e símbolos vinculados à sociedade açucareira.
No campo político, o saudosismo entra em contradição. A tão decantada terra das rebeliões libertárias parece cultivar muito mais os nomes da monarquia e do império em detrimento da memória de seus mártires republicanos. Onde estão as largas avenidas dedicadas ao Frei Caneca, a Domingos Martins, ao Frei Miguelinho, ao Pe. Roma, ao Manuel de Carvalho, à Confederação do Equador, aos Matutos da junta governativa de 1821, aos líderes que romperam laços com Portugal, bem antes que o Rio de Janeiro o fizesse? Alguns desses nomes até que nomeiam algumas ruas da cidade, mas nenhuma de localização central. Ao contrário, é fácil achar a Rua Princesa Isabel, a Rua do Imperador, a Rua da Imperatriz, a Av. Conde da Boa Vista, enfim. Para não ser injusto, é preciso registrar o nome do Cruz Cabugá, que foi o embaixador do governo de 1817 frente aos Estados Unidos da América.
O próximo dia 06 de março marca os 190 anos do primeiro movimento com caracteres republicanos efetivamente posto em prática em nossa história. Mesmo com todas as suas hesitações e limitações, tinha membros que se propunham discutir a forma de governo, planejar eleições, questionar a continuidade do trabalho escravo. Não por acaso, foi duramente reprimida por Lisboa. É um evento, portanto, que deve ser lembrado pelas novas gerações.

Um abraço.