domingo, 17 de fevereiro de 2008

A metáfora do Titanic

A chegada do século XX deu-se, portanto, sob clima de entusiasmo para aqueles que podiam desfrutar das benesses de todas aquelas maravilhas da ciência e da modernidade. O período imediatamente anterior ao início da Primeira Guerra é chamado comumente de "belle èpoque". É nesse contexto que a construção do Titanic pode ser vista como uma metáfora dos tempos modernos, dos primeiros dias do século XX. O navio era o que de melhor e maior a tecnologia pôde construir e algo de particular importância foi o seu uso para o transporte de passageiros. O mundo estava ficando, efetivamente, menor.

Eu penso que a fala atribuída, acho que ao seu comandante, de que "nem Deus afunda este navio" não pode ser comprovada e tem algo de lendária. Mas, verdadeira ou não, o fato dela se propagar, mostra também, de uma forma geral, a força que ciência, a tecnologia, símbolos do progresso, tinham na época. Outra imagem forte que o navio traz é a sua divisão em classes, fato ainda mais tragicamente demonstrado entre as suas vítimas, a maioria entre aqueles que estavam nos porões. O navio que representava o progresso não possuia lugar de primeira classe para todos e seguia produzindo suas vítimas.

Seu naufrágio prenunciou algo que de terrível, os limites que o progresso parecia não ter, até então. Infelizmente, um pouco depois, a Europa Ocidental mergulhava na Grande Guerra de 1914 (como ela foi chamada até que a "segunda" começasse), de onde emergiu com um saldo de mais de 20 milhões de mortos. As técnicas e o progresso ampliavam igualmente as possibilidades da destruição coletiva. Nem bem as cicatrizes da guerra estavam fechadas, quando estourou a Segunda Guerra. O mundo assistiu ou soube depois, dos horrores do nazismo, dos campos de concentração, de extermínio e viu o início da era nuclear. A manhã de 06 de agosto de 1945 trazia pela primeira vez a perspectiva de que a espécie humana pudesse ser extinta por ela mesma. Éramos a única espécie, na verdade, a poder realizar tal proeza. A Razão estava definitivamente em xeque. O stalinismo também produziu, igualmente, os seus milhões de mortos na URSS totalitária. Por todo lugar, o otimismo que era o tom do século XIX estava em declínio.

O Poder e os cientistas precisavam a partir de então, refletir sobre si mesmo e suas responsabilidades. Muito da filosofia da segunda metade do século foi dedicada a essas discussões.

Um comentário:

Unknown disse...

Professor eu adorei o blog

bjus

Aluna:Bervolly