quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

A Razão e o seu século

O século XX foi marcado por um profundo questionamento sobre os valores construídos pelo mundo ocidental desde o século XV, que caracterizam a modernidade. Desde o renascimento, consolidou-se uma visão de mundo que é comumente chamada de racionalismo. Ela se constitui numa crença na capacidade de nossa razão explicar a natureza. Foi essa certeza que criou as ciências modernas, a física e a química, principalmente. Desde então difundiu-se a idéia de que através de meu raciocínio eu posso entender e explicar a natureza, descobrir as leis que a faz funcionar.

Pense assim: um religioso olha para o céu à noite e fica maravilhado "pelo poder de Deus, que sustenta todos os astros em seu lugar". O "homem da razão" olha o mesmo céu e buscará desvendar os mecanismos que o sustentam, a exemplo da "lei da gravitação dos corpos". Evidentemente, essas diferentes posturas iniciaram um certo distanciamento entre esses dois observadores (o velho confronto entre religião e ciência), que só foi agravado pela intensa repressão desencandeada pela Igreja Católica contra esses pensadores e que levou vários para as fogueiras medievais. Atualmente as mágoas e desconfianças mútuas ainda atrapalham muito a realização de um diálogo mais tranqüilo e comedido entre os pensadores das igrejas e da ciência. Mas lembre-se: não é um diálogo impossível.

Mas não bastava entender a natureza. Buscava-se entendê-la para dominá-la, explorá-la melhor, não necessariamente em um sentido negativo, como essas palavras podem levar a pensar. Efetivamente, a física e a química possibilitaram amplos avanços tecnológicos em todas as áreas da nossa vida, melhorando, facilitando, reduzindo a mortalidade, aumentando a produtividade agrícola, reduzindo a necessidade de força física no trabalho manual, enfim. Basta pensarmos nos benefícios que os inventos modernos nos proporcionam. A eletricidade, a penicilina, o raio x, a utilização das ondas de rádio, o chip, etc. etc. Durante o século XIX foi muito grande a percepção de que a ciência era capaz de maravilhas e que ela traria a solução de todos os problemas da humanidade. Com ela, teríamos paz, harmonia, o fim das doenças, o progresso. Foi no XIX que essas idéias ganharam corpo em uma filosofia, o positivismo, consolidada pelo pensador Auguste Conte e que reconhecia no pensamento científico a forma mais avançada e última do pensamento humano. Tais concepções apenas seriam abaladas, e seriamente, a partir das grandes guerra do século XX e do nazi-fascismo.

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